Saudades
- Jaqueline
- 29 de jul. de 2016
- 4 min de leitura

Ainda falando de missão, quero partilhar algo que viver em comunidade tem resgatado dentro de mim, e tem sido uma descoberta um tanto emocionante, desde criança gostava de ajudar a minha mãe a cozinhar, toda criança gosta, fazer bolo, untar a forma, em casa sempre tivemos criação de galinhas e também tínhamos horta, então sempre ajudava o meu pai com os afazeres, a plantar, a colher, alimentar as galinhas, minha mãe tinha o costume de fazer bolo, tortas, pizzas, lanches, enquanto criança nunca havia frequentado fast-food, só fui conhecer um shopping quando comecei a namorar, não era costume da minha família sair para comer, sempre fazíamos as refeições em casa, algo que para mim era natural, porém quando se vai crescendo se perde alguns costumes, e comigo não foi diferente, comecei a trabalhar, a ter o meu dinheiro, e daí em diante fui conhecendo um mundo “fácil” de comidas rápidas, enlatadas, prontas, quando casei como meu esposo e eu trabalhávamos quase nunca cozinhávamos, nós comíamos congelados, semi pronto ou saiamos para comer fora, tanto que meu primeiro botijão de gás durou quase um ano, fui apresentada ao microondas, que maravilha, pois na casa dos meu pais não tínhamos, nossa estava em êxtase rsrsr.
Certo dia já morando aqui na comunidade me deu uma vontade louca, insana de comer coxinha (coisa mais boba você deve estar pensando) mais quem vive de “vida” vai entender, e aqui na comunidade temos algumas regras, e eu não podia simplesmente sair e comprar uma coxinha só por vontade, como faria se ainda vivesse fora da comunidade, daí resolvi fuçar na geladeira e lá tinha todos os ingredientes para se fazer coxinha, e não é que depois de mais de 15 anos sei lá eu fiz coxinha, demorou pra caramba, fez a maior sujeira, mais no fim comi um monte, que delícia, matei minha vontade, e cada dia aqui tem sido uma descoberta e um relembrar da minha infância ao cozinhar, tenho feito várias receitas, algumas confesso que não saem tão boas quanto nas minhas lembranças rsrsr, mais o viver em comunidade requer alguns sacrifícios, então os irmão comem e até que não reclamam muito rsrsrs.
Mais você deve estar se perguntando onde quero chegar com isso? Que coisa nada a ver rsrsr, quero chegar que na nossa vida nós nos esquecemos do que é natural, perdemos gosto das coisas simples, e começamos a aceitar e comprar tudo o que nos oferecem simplesmente por ser mais rápido, fácil, e não é só com a coxinha rsrsr, mais em tudo, levamos coisas para dentro do nosso lar desnecessária, e abrimos mão de pequenas coisas que nos dão imenso prazer, garanto que você adora comer ou então quando se lembra do sabor da comida da sua avó da até água na boca, eu me dá quando me lembro de um certo biscoito de polvilho que minha bisavó fazia, mais será que nossos filhos e netos terão essas lembranças nossa? Será que deixaremos sabores na vida da geração que vem após nós, ou apenas deixaremos rótulos, marcas, preços e etiquetas.
É NATURAL do ser mulher cozinhar para família, no documento do Papa Francisco Amoris Laetitia, ele diz que a primeira catequese é a família, e ela acontece ao redor da mesa, ele cita (dentro de casa onde homem e a sua mulher estão sentados á mesa, aparecem os filhos que os acompanham ”como broto de oliveira”-SL 128/127,3) é na mesa, no alimentar, no cuidar, no cozinhar que estamos educando e fazendo lembranças aos nossos filhos, os discípulos de Emaús só reconheceram Jesus ao partir o pão ( LC 24, 30-31), e você, e eu e nós como queremos ser reconhecidos? É triste ver que a sociedade cobra cada vez mais das mulheres a ponto de ela não querer mais cozinhar, cuidar, alimentar a suara família.
Que hoje ao terminar de ler esse texto você possa se recordar dos sabores, cheiros e temperos que fizeram parte da sua infância, do gosto do bolo que dá saudade de uma avó, tia, mãe, da sopa quentinha no inverno, das conversas alegres ao redor da mesa de café com o bolo de fubá, dos parabéns simples com brigadeiro enrolado por você para ser cantado na sala de casa, que você possa fazer resgate dessas lembranças e perceber que muitas dessas mulheres que hoje você trouxe na sua lembrança mais que uma carreira, mais que uma profissão, elas estão marcadas por aquilo que elas faziam com as próprias mãos.
Quero terminar com um poema pra você, até a próxima.
Lembranças
O cheiro do café moído, a mesa posta está;
No centro o bolo de milho, o chá já a esfriar;
Saia descalça gritando, menino sai da rua venha logo seu chá tomar.
Tenho saudades do tempo, do tempo da vovó me ninar.
Saudade daquela infância, que hoje não posso mais voltar.
Tempo de menino, brincadeira na rua, vivi livre a andar,
brincava com os primos, não tinha hora para entrar,
corria sem medo do destino, infância segura, na rua de terra, livre a voar,
chegava em casa faminto, mamãe com o jantar na mesa
já estava a me esperar.
Saudade dos dias que papai comigo
De cavalinho em seu ombro me levava a passear
Saudades da infância, infância essa que quero hoje resgatar
Quero que meus filhos e filhas, um dia de mim assim também possam lembrar.
Saudades de quando os adultos tinham tempo
E a maior missão eram os seus filhos cuidar.
Lembranças que trago no peito, com dor deixo a lágrima rolar,
Mais é com gratidão, que hoje posso dizer,
Que a maior missão no meu humilde lar pude viver.
Melhor que todos os presentes o aconchego dos meus pais eu pude receber.
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